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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Eraserhead - 1977



É difícil descrever uma produção tão atípica quanto Eraserhead. Desde a sua estréia em 1977 o filme tem gerado inúmeras discussões, sejam para tentar classificá-lo, sejam para tentar entendê-lo. Todo o esforço dispensado ao longo dessas mais de três décadas, no entanto, não foi suficiente para se chegar a conclusão de que algumas obras são únicas, capazes de quebrar paradigmas e abrir caminho para novas tendências. No caso de Eraserhead, limitamo-se ao que se diz respeito à quebra de paradigmas, uma vez que não temos conhecimento de nada semelhante produzido com bases nessa experiência, embora tenha influenciado a obra de grandes diretores do cinema de horror como Stephen King e George Romero.
Como já disse, inúmeras tentativas de análise já foram feitas ao longo dos anos e nada pôde ser concluído a respeito de Eraserhead. O fato do diretor David Lynch nunca ter mencionado uma palavra sequer a respeito do que poderia se tratar o filme assim como a riqueza de elementos metafóricos contidos na produção colaboram com a manutenção do mistério e abrem espaço para uma infinidade de interpretações possíveis.

Um breve resumo

Henry é um rapaz apático e solitário, vive em um bairro industrial sombrio e praticamente deserto. Certo dia recebe um convite para jantar na casa de sua namorada. Após um estranho jantar com os pais da garota Henry é informado que será pai. Como a gestação não foi planejada, é imposto a ele que se case com sua namorada e assuma a criança. Após o parto a namorada de Henry mud-ase para o apartamento dele, o "bebê", no entanto, é prematuro e mal formado, possui um aspecto gelatinoso com uma cabeça semelhante à de um bezerro e aparentemente (uma vez que passa todo o tempo envolto em gazes)não possui membros.
Após alguns dias a esposa de Henry abandona-o sozinho com o bebê por não aguentar mais o choro deste. A partir daí Henry se vê diante de um grande desafio, que é cuidar de uma “criança” que passa a maior parte do tempo chorando e adquirindo doenças instantâneas.
Essa situação se arrasta ao longo do filme até o ponto em que fica insuportável, culminando com o homicídio do bebê, por parte do próprio pai.



Metáforas

Acredito que a proposta do filme está vinculada ao sentimento de culpa inerente à espécie Humana. Os tópicos a seguir abordam algumas metáforas que podem justificar esta afirmação.

1-O filme começa com a imagem de um sujeito decrépito controlando algumas alavancas numa espécie de sótão, em seguida vemos uma esfera num plano escuro, sobreposta à imagem da cabeça de Henry que parece estar flutuando. O Homem ativa uma das alavancas e em seguida uma espécie de germe é extraído da cabeça de Henry e logo depois cai em uma possa d’água.
Pode-se afirmar que o homem das alavancas seria Deus ou o destino controlando a vida de Henry. A esfera seria o ovário feminino e o germe extraído da cabeça do protagonista um espermatozóide. Logo, pode-se justificar a afirmação de que a concepção do "bebê" não foi planejada, senão um acidente.

2-Henry vive em um bairro cercado por industrias e montes de entulho. Existe um som intermitente de máquinas trabalhando, porém não se vê pessoas ou seres vivos, propiciando assim uma visão desértica e fria (no sentido de desolação) do ambiente, acentuada pela gravação em preto e branco.
As características do ambiente colaboram com a descrição do personagem principal, um sujeito introspectivo, tímido e solitário, que mesmo estando em sua casa em férias, usa terno e gravata, além de diversas canetas no bolso frontal do paletó. Aqui temos uma visão da sociedade urbana; mecânica, produtiva, porém ignorante no que se diz respeito às relações sociais e instintivas.

3-Henry é convidado para um jantar com os pais de sua namorada. Durante o jantar, inúmeros acontecimentos bizarros, como um frango que sangra e se movimenta num prato, além de uma grande perplexidade explicitada pelo rapaz diante de uma família no mínimo exótica, retratam o desconforto que um rapaz sente quando visita a casa de sua namorada pela primeira vez e precisa parecer gentil e agradável.

4-Henry possui um aquecedor em seu quarto de onde se pode ouvir a voz de uma mulher bochechuda, que passa a maior parte do tempo cantando em uma espécie de palco. Suas canções são suaves e costumam passar mensagens de conforto do tipo “In heaven everything is fine” (no céu, tudo está bem).
Em um determinado momento a cantora misteriosa divide o palco com Henry que se mostra completamente amedrontado, de repente a cabeça do rapaz salta para fora do corpo para dar lugar à cabeça do bebê deformado, enquanto a mulher pisoteia as criaturas parecidas com germes. Depois a cabeça de Henry submerge em uma poça de sangue para em seguida aparecer em uma rua do seu bairro.
Um menino recolhe a cabeça e leva-a para um homem que a compra como material para produzir borracha para lápis, daí o nome Eraserhead (cabeça de borracha).
Essa passagem é muito reveladora, pois é a partir dela que se pode deduzir qualquer coisa a respeito do título do filme.
Acredito que a grande metáfora em jogo é a do lápis simbolizando o protagonista.
A borracha do lápis seria o cérebro, enquanto a ponta da grafite representa o pênis. A borracha apaga os erros cometidos pela grafite.
Henry cometeu um grande erro ao engravidar sua namorada e passou a sofrer com as consequências do nascimento do bebê. Após a visão ou sonho com a garota do aquecedor decide pôr fim ao problema. Como não encontra outra saída, resolve eliminar a causa do problema matando o bebê com uma tesoura.
Entre outras palavras, podemos afirmar que Henry “apagou” um erro do passado da maneira mais fria e cruel possível, sem racionalizar ou tentar buscar outras maneiras para solucionar o problema, pois sua cabeça nada mais é e nada pode fazer além do que faz uma borracha, simplesmente apaga.

Vale lembrar que o diretor David Lynch inspirou-se em sua experiência pessoal para desenvolver esse roteiro. Assim como seu personagem Henry, Lynch também engravidou sua namorada acidentalmente, a garota deu a luz a uma criança com deficiência física (tinha os pés atrofiados) e em seguida fugiu deixando-a com Lynch.

Trailer de Eraserhead



Ficha Técnica

Direção: David Lynch.
Roteiro: David Lynch.
Produção: David Lynch.
Produção Executiva: Fred Baker.
Fotografia: Frederick Elmes e Herbert Cardwell.
Música: David Lynch.
Edição: David Lynch.
Direção de Arte: David Lynch.
Elenco: Jack Nance, Charlotte Stewart, Jeanne Bates, Allen Joseph, Judith Anna Roberts, Laurel Near, V. Phipps-Wilson, Jack Fisk, Gill Dennis, Darwin Joston.

3 comentários:

  1. Rapaz, suas ideias são boas e me deram uma luz... mas não concordo muito com a borracaha apagar os erros do grafite... mas certamente retrata bem a civilização mecanizada. Se quiser discutir, o e-mail: fanq_4@hotmail.com 8D

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  2. Até adivinhei que o filme era sobre isso tudo, e inclusive, já no início imaginei que Lynch teria um filho com problemas físicos, e etc.

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  3. Primeiramente, obrigado por permitir comentários anônimos. Odeio registros, mas infelizmente a tendência na internet tem sido a de reduzir a liberdade.

    Então... Obrigado por esclarecer para mim um pouco do quê o produtor do filme imaginou, mas para mim o filme continua parecendo ruim.

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